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1.° Que esta Declaração dirigida contra Bonaparte na epocha do seu desembarque nas costas de França não tinha applicação, por isso que agora elle se havia apoderado das redeas do governo sem resistencia manifesta, e que, provando sufficientemente este facto o voto da Nação, não sómente entrára de novo nos seus antigos direitos para com a França, mas que mesmo a questão da legitimidade do seu governo deixava de ser da competencia das Potencias;

2.° Que offerecendo ratificar o Tratado de París, afastava todo o motivo de guerra contra elle.

A Commissão foi especialmente encarregada de tomar em consideração:

1.o Se a posição de Bonaparte para com as Potencias da Europa mudou pelo facto da sua chegada a París, e pelas circumstancias que acompanharam os primeiros successos da sua empreza sobre o throno de França;

2.o Se o offerecimento de sanccionar o Tratado de París de 31 (1) de Maio de 1814 póde decidir as Potencias a adoptar um systema differente d'aquelle que expozeram na Declaração de 13 de Março;

3.o Se é necessario ou conveniente publicar uma nova Declaração, para confirmar ou modificar a de 13 de Março?

A Commissão, depois de haver examinado attentamente estas questões, dá á assembléa dos Plenipotenciarios a seguinte conta do resultado das suas deliberações:

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PRIMEIRA QUESTÃO.

Mudaria a posição de Bonaparte para com as Potencias da Europa pelos primeiros successos da sua empreza, ou pelos acontecimentos que tiveram logar depois da sua chegada a París?

As Potencias, informadas do desembarque de Bonaparte em França, não viram n'elle mais que um homem que, diri

(1) Aliás 30.

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oitant le peuple et l'armée à la révolte contre le Souverain légitime, et en usurpant le titre d'Empereur des Français (1), avait encouru les peines que toutes les législations prononcent contre de pareils attentats, un homme qui, en abusant de la bonne foi des Souverains, avait rompu un Traité solennel; un homme enfin, qui, en rappelant sur la France, heureuse et tranquille, tous les fléaux de la guerre intérieure et extérieure, et sur l'Europe, au moment où les bienfaits de la paix devaient la consoler de ses longues souffrances, la triste nécessité d'un nouvel armement général, était regardé à juste titre comme l'ennemi implacable du bien public. Telle fut l'origine, tels furent les motifs de la Déclaration du 13 Mars; Déclaration, dont la justice et la nécessité ont été universellement reconnues, et que l'opinion générale a sanctionnée.

Les évènements qui ont conduit Bonaparte à Paris, et qui lui ont rendu pour le moment l'exercice du pouvoir suprême, out, sans doute, changé de fait la position dans laquelle il se trouvait à l'époque de son entrée en France; mais ces évènements, amenés par des intelligences criminelles, par des conspirations militaires, par des trahisons révoltantes, n'ont pu créer aucun droit; ils sont absolument nuls sous le point de vue légal; et pour que la position de Bonaparte fut essentiellement et légitimement changée, il faudrait que les démarches qu'il a faites pour s'établir sur les ruines du Gouvernement renversé par lui, eussent été confirmées par un titre légal quelconque.

Bonaparte établit dans ses publications, que le vœu de la Nation Française en faveur de son rétablissement sur le trône, suffit pour constituer ce titre légal.

La question à examiner par les Puissances, se reduit

(1) L'Article 1 de la Convention du 11 Avril 1814 est conçu en ces termes: «L'Empereur Napoléon renonce pour lui, ses successeurs et descendants, ainsi que pour tous les membres de sa famille, à tous droits de souveraineté et de pouvoir, non-seulement sur l'Empire Français, et sur le Royaume d'Italie, mais sur tout autre pays. "Nonobstant cette renonciation formelle, Bonaparte dans ses différentes proclamations, du Golfe de Juan, de Gap, de Grenoble, de Lyon, s'intitula: «Par la grâce de Dieu et les constitutions de l'Empire, Empereur des Français, etc., etc. etc. » V. Moniteur du 21 Mars 1815.

gindo-se sobre o territorio Francez com mão armada e com o reconhecido projecto de derribar o Governo estabelecido, excitando o povo e o exercito á revolta contra o Soberano legitimo, e usurpando o titulo de Imperador dos Francezes (1), havia incorrido nas penas que todas as legislações proferem contra similhantes attentados; um homem que, abusando da boa fé dos Soberanos, havia roto um Tratado solemne; finalmente um homem que, attrahindo á França, prospera e tranquilla, todos os flagellos da guerra interna e externa, e á Europa, no momento em que os beneficios da paz deviam consola-la de seus longos soffrimentos, a triste necessidade de um novo armamento geral, era considerado como o inimigo implacavel do bem publico. Tal foi a origem, taes foram os motivos da Declaração de 13 de Março; Declaração, cuja justiça e necessidade foram universalmente reconhecidos, e que a opinião publica ha sanccionado.

Os acontecimentos que conduziram Bonaparte a París, e que por então lhe deram o exercicio do poder supremo, mudaram sem duvida de facto a posição em que elle se encontrava na epocha da sua entrada em França; mas esses acontecimentos, promovidos por intelligencias criminosas, por conspirações militares, por traições indignas, não poderam crear direito algum; são absolutamente nullos debaixo do ponto de vista legal; e para que a posição de Bonaparte fosse essencial e legitimamente mudada, seria preciso que os passos que elle deu para se estabelecer sobre as ruinas do Governo por elle derribado, houvessem sido confirmados por um titulo legal qualquer.

Bonaparte estabelece nas suas publicações que o voto da Nação Franceza, a favor do seu restabelecimento ao throno, é sufficiente para constituir esse titulo legal.

A questão que têem de examinar as Potencias reduz-se

(1) O Artigo 1 da Convenção de 11 de Abril de 1814 é concebido n'estes termos: «O Imperador Napoleão renuncia por si, seus successores e descendentes, assim como por todos os membros da sua familia, a todos os direitos de soberania e de poderio, não sómente sobre o Imperio Francez e sobre o Reino de Italia, mas sobre qualquer outro paiz. » Não obstante esta renuncia formal, Bonaparte nas suas differentes proclamações, do Golfo de Juan, de Gap, de Grenoble, de Lyon, intitulou-se: «Pela graça de Deus e as constituições do Imperio, Imperador dos Francezes, etc., etc., etc.» Vide Moniteur de 21 de Março de 1815.

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aux termes suivants: Le consentement réel ou factice, explicite ou tacite de la Nation Française au rétablissement du pouvoir de Bonaparte, peut-il opérer dans la position de celui-ci vis-à-vis des Puissances étrangères, un changement légal et former un titre obligatoire pour ces Puissances?

La Commission est d'avis, que tel ne peut point être l'effet d'un pareil consentement; et voici les raisons sur lesquelles elle s'appuie:

Les Puissances connaissent trop bien les principes qui doivent les guider dans leurs rapports avec un pays indépendant, pour entreprendre (comme on voudrait les en accuser) « de lui imposer des lois, de s'immiscer dans ses affaires intérieures, de lui assigner une forme de gouvernement, de lui donner des maîtres au gré des intérêts ou des passions de ses voisins. » (1) Mais elles savent aussi que la liberté d'une nation, de changer son système de gouvernement, doit avoir ses justes limites, et que, si les Puissances étrangères n'ont pas le droit de lui prescrire l'usage qu'elle fera de cette liberté, elles ont au moins indubitablement celui de protester contre l'abus qu'elle pourrait faire à leurs dépens. Pénétrées de ce principe, les Puissances ne se croient point autorisées à imposer un gouvernement à la France; mais elles ne renonceront jamais au droit d'empêcher que sous le titre de gouvernement il ne s'établisse en France un foyer de désordres et de bouleversements pour les autres États. Elles respecteront la liberté de la France partout où elle ne sera pas incompatible avec leur propre sûreté, et avec la tranquillité générale de l'Europe.

Dans le cas actuel, le droit des Souverains alliés, d'intervenir dans la question du régime intérieur de la France, est d'autant plus incontestable, que l'abolition du pouvoir que l'on prétend y rétablir aujourd'hui, était la condition fondamentale d'un Traité de paix, sur lequel reposaient tous les rapports qui, jusqu'au retour de Bonaparte à Paris, ont subsisté entre la France et le reste de l'Europe. Le jour de leur entrée à Paris, les Souverains déclarèrent, qu'ils ne traiteraient jamais de la paix avec Bonaparte. (2) Cette dé

(1) C'est ainsi que le rapport du Conseil d'État de Bonaparte s'exprime sur les intentions des Puissances. V Moniteur du 13 Avril. (2) Déclaration du 31 Mars 1814.

aos seguintes termos: O consentimento real ou facticio, explicito ou tacito da Nação Franceza para o restabelecimento do poder de Bonaparte, póde effeituar na posição d'este para com as Potencias estrangeiras uma mudança legal, e formar um titulo obrigatorio a essas Potencias?

A Commissão é de parecer que tal não póde ser o effeito de similhante consentimento; e eis-aqui as rasões em que ella se apoia:

As Potencias conhecem demasiado os principios que as devem guiar nas suas relações com um paiz independente, para emprehenderem (como se pretende accusa-las) «< impôr-lhe leis, ingerir-se nos seus negocios internos, designarThe uma fórma de governo, dar-lhe amos a contento dos interesses ou das paixões dos seus visinhos. » (1) Mas ellas tambem sabem que a liberdade que tem uma nação de mudar o seu systema de governo deve ter um justo limite, e que, se as Potencias estrangeiras não têem o direito de lhe prescrever o uso que ha de fazer d'essa liberdade, pelo menos têem indubitavelmente o de protestar contra o abuso que poderia fazer da mesma em prejuizo d'ellas. Penetradas d'este principio, não se crêem as Potencias auctorisadas a impor um governo á França; porém nunca renunciarão o direito de impedir que, debaixo do titulo de governo, se estabeleça em França um fóco de desordens e de ruina para os mais Estados. Ellas respeitarão a liberdade da França sempre que esta não seja incompativel com a sua propria segurança e com a tranquillidade geral da Europa.

No presente caso, o direito dos Soberanos alliados, de intervirem na questão do regime interno da França, é tanto mais incontestavel, quanto que a abolição do poder que ali se pretende restabelecer hoje, era a condição fundamental de um Tratado de paz, sobre que assentavam todas as relações que, até ao regresso de Bonaparte a París, subsistiram entre a França e o resto da Europa. No dia da sua entrada em París declararam os Soberanos que jamais tratariam da paz com Bonaparte. (2) Aquella declaração, altamente ap

(1) É assim que se expressa o Relatorio do Conselho d'Estado de Bonaparte acerca das intenções das Potencias. Vide Moniteur de 13 de Abril. (2) Declaração de 31 de Março de 1814.

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